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Bodas de Eva, 2021

Galeria Marcia Barrozo do Amaral | RJ

Exposição Individual - acrílica sobre tela

As Bodas de Eva - Anna Bella

Texto crítico por Anna Bella Geiger

Era o ano zero, há 5.780 anos atrás.

Num certo local da Terra, para os lados do Oriente Médio, onde há uma confluência mesopotâmica entre 4 rios tributários, lá viveram Adão e Eva.

 

Uns afirmam que o cenário da região era paradisíaco, ali estavam os jardins do Éden. Outros, porém, afirmam que ali havia apenas 2 árvores. É um assunto polêmico.

 

Simon Schamma, historiador, em seu livro Paisagem e Memória, cita uma passagem do livro do Genesis 2.9, que diz que lá existiam apenas 2 árvores: a fatídica, da ciência, do bem e do mal; e a vital, a da vida, que foi a causa da expulsão de Adão e Eva daquele lugar, por terem provado do seu fruto: maçã, romã ou etrog?

 

Árvores sempre serviram como alegorias da vida e da morte nas artes visuais, desde Holbein, Cranach, Brueghel. E Moisés descreveu a sarça ardente, que também poderia ter sido um pequeno matagal.

 

Há sempre nessas cenas um contraste entre árvores mortas e vivas, verdejantes. Elas são sempre representadas em pares, umas ao lado da outras, para acentuar essa oposição.

 


Nas telas pintadas por Esther há uma outra visão do paraíso, uma outra vontade, que entendo como a de um revigoramento da paisagem, vegetal, florestal, sem árvores simbólicas. Tudo que é tratado em detalhes visa a uma composição maior, para formar o todo da tela. As várias espécies vegetais, algumas criadas por sua imaginação, ajudam a criar um cenário propício, nunca um obstáculo intransponível para o ser humano, para Adão e Eva poderem caminhar, por ali passar.

Em algumas de suas telas há citações geológicas, onde vemos as pequenas ilhas Cagarras no horizonte (Esther é carioca e vive no Rio), mas são imediatamente encobertas por camadas de véus pictóricos junto a uma vegetação surreal que se transforma numa visão onírica também na busca de um possível Jardim Edênico.

 

Numa série de 4 pequenas telas intituladas Enamorando, os elementos são mais da cor da areia, da terra, mais geológicos.

 

Em algumas outras telas, a artista imprime um ritmo acelerado, resultante de pinceladas rápidas, gráficas, mais gestuais, que nos transportam para os ciclos vitais de uma floresta, quase uma cena da mata Atlântica, e do rio Carioca passando entre folhas, gravetos, pedrinhas.

 

Num terceiro gesto, em composições mais recentes, a paisagem vem surgindo numa construção mais unida, mais sintética, numa busca formal mais independente, cuja solução se dá também pelo uso monocromático da cor.

 

Esther nos emula a penetrar neste universo pictórico, para neles virtualmente imaginar e compartilhar como foi que aquilo aconteceu, há exatamente 5,780 anos atrás.

Anna Bella Geiger

Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2021

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